ATA DA QUINTA REUNIÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA COMISSÃO
REPRESENTATIVA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 18-01-1990.
Aos dezoito dias do mês de janeiro do ano de mil
novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a
Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quinta Reunião Ordinária da Segunda
Comissão Representativa da Décima Legislatura. Às nove horas e quarenta e cinco
minutos, foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores
Adroaldo Correa, Clóvis Brum, Ervino Besson, Gert Schinke, Giovani Gregol,
Isaac Ainhorn, João Dib, José Alvarenga, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Omar Ferri,
Valdir Fraga, Vicente Dutra e Vieira da Cunha, Titulares, Dilamar Machado,
Jaques Machado, João Motta, José Valdir, Leão de Medeiros e Nelson Castan, Não
Titualres. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou
abertos os trabalhos e solicitou ao Ver. Ervino Besson que procedesse a leitura
de trecho da Bíblia. Ainda, determinou que fossem distribuídas, em avulsos,
cópias das Atas da Terceira Reunião Ordinária e da Ata Declaratória da Quarta
Reunião Ordinária que, juntamente com a Ata da Reunião de Instalação e as Atas
Declaratórias da Primeira e da Segunda Reuniões Ordinárias, deixaram de ser
votadas em face da inexistência de “quorum” deliberativo. À MESA foram
encaminhados: pelo Ver. Cyro Martini, 05 Pedidos de Providências; 01 Indicação;
pelo Ver. Nelson Castan, 02 Pedidos de Providências; pelo Ver. Vieira da Cunha,
01 Pedido de Informações. Do EXPEDIENTE Constaram: Ofícios nºs 05; 10; 08; 26;
27; 32; 37; 42; 44; 45; 46; 47; 48/89, do Sr. Prefeito Municipal; 09; 10/89, do
Chefe de Gabinete do Governador do Estado; 53/89, do Diretor Geral do Colégio
Anchieta; 200/89, do Diretor-Presidente do TRENSURB S.A.; Ofício-Circular nº
78/89, da Federação da Mulheres Gaúchas; Telex da Associação Comercial de Porto
Alegre; Telegramas do Arq. Resende, Presidente da AREA; do Diretor de Finanças
da Siderúrgica Brasileira S.A.; Cartão do Dep. Vivaldo Barbosa. Após, o Sr.
Presidente registrou as presenças, no Plenário, do Prefeito em exercício, Dr.
Tarso Genro, e do Secretário Municipal dos Transportes. Em continuidade o Sr.
Secretário procedeu à leitura do Requerimento nº 15/90, do Ver. Nelson Castan,
votado pela Casa dia onze do corrente, que solicitava o convite ao Prefeito
Municipal para comparecimento nesta Casa, visando esclarecimentos sobre os
seguintes quesitos: a) Qual o entendimento do Executivo sobre a necessidade ou
não de encaminhar à Câmara Municipal Projeto de Lei submetendo ao Legislativo a
aprovação das renovações das intervenções nas empresas de ônibus Trevo e VTC,
conforme prevê a Lei nº 6557, de 29/12/89? b) Qual a avaliação do Executivo
sobre a decretação da falência da Viação Belém Novo? c) Qual a avaliação do
Executivo quanto ao desempenho operacional e financeiro das Empresas de Ônibus
Trevo, SOPAL e VTC ao longo do período sob a gestão da Prefeitura Municipal? d)
Até quando o Executivo pretende manter as intervenções e quais os reais motivos
para as últimas renovações, já que as razões invocadas inicialmente, em
fevereiro do ano passado, se referiam a “abuso ou conduta delituosa dos
permissionários”? A seguir, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Prefeito em
exercício Tarso Genro, que respondeu os quesitos formulados através do Requerimento
acima referido. Após, os Vereadores Nelson Castan, João Dib, Isaac Ainhorn,
Gert Schinke e Artur Zanella formularam questionamentos ao Prefeito em
exercício e manifestaram-se quanto ao transporte coletivo de Porto Alegre.
Ainda, o Sr. Presidente esclareceu ao Pref. Tarso Genro a promulgação, dia
vinte e nove de dezembro de mil
novecentos e oitenta e nove, do Veto, rejeitado pela Casa, aposto pelo
Executivo Municipal ao Projeto de Lei do Legislativo nº 53/89. Às onze horas e
cinqüenta e nove minutos, foram suspensos os trabalhos, nos termos do art. 84,
II do Regimento Interno, sendo reabertos, constatada a existência de “quorum”,
às onze horas. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. João Dib comentou documento
distribuído pela Administração Popular acerca da situação salarial do
funcionalismo público municipal, declarando serem inverídicos alguns dados ali
constantes, quanto ao índice de incidência do valor desses salários na receita
do Município. Solicitou o cumprimento da lei que determina o reajuste bimestral
dos servidores municipais, atentando para as conseqüências resultantes do não
cumprimento dessa legislação. O Ver. Vieira da Cunha manifestou-se acerca de
acusações que vem sofrendo de que teria patrocinado um “trenzinho da alegria”
ao propor a estabilidade no emprego aos servidores com mais de dois anos de
trabalho no Município. Declarou que a posição do PT, contrária a esta
estabilidade, não corresponde às lutas trabalhistas defendidas por aquele
Partido. E o Ver. João Motta falou sobre debate realizado, esta manhã, entre a
Casa e o Sr. Prefeito em exercício, Dr. Tarso Genro, acerca do transporte
coletivo da Cidade. Reportou-se ao pronunciamento do Ver. Vieira da Cunha,
sobre proposta de estabilidade aos funcionários do Município, dizendo que seu
Partido apóia a idéia de estabilidade no emprego, mas que a proposta feita por
S. Exª significa a eliminação do concurso público para o serviço municipal. A
seguir, foi efetuada nova verificação de “quorum”, registrando-se as presenças
dos Vereadores Adroaldo Correa, Ervino Besson, Giovani Gregol, João Dib, José
Alvarenga, Omar Ferri, Vieira da Cunha e Vicente Dutra. Constatada a
inexistência de “quorum” para a Ordem do Dia, o Sr. Presidente levantou os
trabalhos às doze horas e vinte minutos, convocando os Senhores Vereadores para
Sessão da Câmara Constituinte a ser realizada na próxima segunda-feira, às
quatorze horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga e
Adroaldo Correa e Secretariados pelos Vereadores Adroaldo Correa e Vieira da
Cunha, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Adroaldo Correa, 3º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): É com
muito prazer que estamos recebendo a visita do Vice-Prefeito Tarso Genro,
Prefeito em exercício, acompanhado do Engº Carlos Schmit, Secretário Substituto
da Secretaria dos Transportes. O Prefeito Substituto vem à Câmara a convite de
um Requerimento do Ver. Nelson Castan.
O SR. NELSON CASTAN: Solicito
ao Sr. Presidente que esclareça ao Plenário a maneira como serão fornecidos os
esclarecimentos por parte do Prefeito em exercício.
O SR. PRESIDENTE: O
Prefeito convocado, conforme o Regimento Interno, Cap. 3º, art. 202, terá o
prazo de uma hora para fazer a exposição, que atende, exclusivamente, o assunto
da convocação, tendo em vista que foram encaminhadas, conforme o Regimento, as
perguntas por escrito. Então, o mesmo ficará à disposição e, logo a seguir, V.
Exª será o primeiro inscrito, se as suas perguntas não estiverem sidos
respondidas.
Com a palavra
o Sr. Tarso Genro.
O SR. TARSO GENRO: Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, participantes da Mesa, colega do Governo, Ver.
Adroaldo que secretaria a Sessão. É com muita honra que venho responder aos
quesitos formulados por esta Casa a respeito da questão do transporte coletivo.
Antes de respondê-los, gostaria de colocar uma preliminar, recapitulando, de
forma rápida, as condições políticas e institucionais que determinam a
intervenção no serviço de transporte, e que permanece, ainda, com alguma
empresa em situação pendente.
O Processo de intervenção emergiu de um fato
consumado determinado por uma notificação judicial feita pelas empresas, que
davam um prazo para que o Executivo arbitrasse a tarifa, sob pena de praticarem
a interrupção no fornecimento do transporte. Nós fomos, portanto, em função
dessa notificação, compelidos a realizar a intervenção, visando a manutenção
mínima do serviço. É necessário que se coloque como preliminar, que a
intervenção no transporte foi um ato de legítima defesa do Poder Público, de
uma parte, e de outra, uma legítima defesa da própria manutenção do serviço
essencial. Foi uma reação em defesa da manutenção dos serviços e não um projeto
pré-concebido pelo Executivo que, naquele momento, praticamente, recém se
instalava para dirigir durante quatro anos os destinos da Cidade.
Esse processo de intervenção, em parte das
empresas, determinou uma série de levantamentos de natureza técnica, contábil e
também sobre as condições estruturais do ponto de vista financeiro das
empresas. Levantou naquilo que na opinião do Executivo constitui uma série de
irregularidades ou de limitações ou de erros cometidos pelos Srs.
Permissionários na gestão de suas empresas. Os problemas levantados foram
suficientes para que o Poder Executivo permanecesse à testa de algumas empresas
ao mesmo tempo que procedia a uma série de levantamentos de interesse do
próprio fisco estadual, particularmente na área do IR, como também verificando
as condições de gestão do patrimônio das empresas e a sua dissociação, a sua
fragmentação, em atividades que não diziam respeito ao objetivo social dessas
empresas.
Feito esse esclarecimento, passo a responder
os quesitos formulados pela Câmara de Vereadores, respostas que faço com
orgulho e respeito a esta Casa que, ao longo do relacionamento do primeiro ano
de governo da Administração Popular, demonstrou ser o fórum da mais alta e
dignificada representação da Cidade.
1) Qual o entendimento do Executivo sobre a
necessidade ou não de encaminhar à Câmara Municipal projetos de leis submetendo
ao Legislativo a aprovação das renovações das intervenções nas empresas de
ônibus Trevo e VTC, conforme a Lei nº 6.557, de 29/12/89? Nós vetamos a Lei, o
nosso veto foi derrubado. Vamos recorrer à Justiça contra este veto. Partimos
do entendimento de que cabe ao Executivo a manutenção e o policiamento do
serviço público do qual faz parte o transporte coletivo da Cidade. A Lei votada
pela Câmara de Vereadores, no entendimento do Executivo, inibe a sua ação,
obstaculizando, portanto, que exerça em toda a plenitude, com toda a
responsabilidade do poder que lhe é conferido pela estrutura constitucional do
País. Dizer que qualquer decisão da Justiça a respeito desta pendência,
qualquer decisão final do Judiciário que determine um outro procedimento do
Executivo, que este procedimento será tomado. A intervenção é um ato praticado
pelo Executivo e faz parte deste poder de polícia que é inerente ao Executivo
para garantir a manutenção do serviço.
A nossa divergência com a Egrégia Câmara de
Vereadores vem do fato de que ao aprovar a Lei – e a Câmara tem o direito de
fazer isto e o Judiciário está aí para dirimir estas controvérsias entre
Poderes – o Legislativo pretende, também, exercer o poder de polícia. O que no
nosso entendimento não é viável. Além disso, aluzimos três razões secundárias
que dissociam propriamente da Lei, mas que vem do entendimento e da avaliação
deste fato jurídico da intervenção, enquanto totalidade. A primeira é que a
partir de uma intervenção meramente gramatical da Lei, esta intervenção
gramatical é apenas um dos tipos de interpretação da norma jurídica, a Lei se
refere a intervenções. Portanto, a um ato administrativo que se inicia pela
encampação, no caso, o que temos concretamente não é uma intervenção como ato
inicial de relacionamento do Poder Público, este ato jurídico. Mas é uma
renovação da intervenção. Em segundo lugar, não se trata de uma encampação,
portanto, como primeiro momento de abordagem através de uma interpretação
gramatical da norma jurídica, e aqui compartilho deste debate com advogados
qualificados que sabem que este método de interpretação da lei é apenas um
deles. Portanto, do ponto de vista da interpretação gramatical o Poder
Executivo entende que está suficientemente amparado para não obedecer à lei
porque ela não se refere ao fato jurídico em curso nesta disputa. Em segundo
lugar, há um problema técnico a ser considerado no que se refere à Lei. A Lei
foi aprovada no dia 29 de dezembro e promulgada pelo ilustre Presidente desta
Casa no mesmo dia sem que fosse atendido o prazo de 48 horas para que o
Executivo pudesse se manifestar, embora essa manifestação pudesse ou não ser
feita sobre o projeto aprovado. Assim, a Lei acabou sendo promulgada em data
anterior ao decreto de renovação das intervenções, mas esta promulgação, em
data anterior, se deu sem atendimento ao aprazo de 48 horas. Em terceiro lugar,
que me parece intransponível, e nisso em particular gostaria de ouvir a opinião
dos nobres Vereadores que não são advogados, é que nós estamos abrigados no
princípio da continuidade e da incidibilidade do ato administrativo, ou seja, o
ato administrativo, embora seja complexo, é um ato e, portanto, se trata de um
ato administrativo plenamente eficaz, plenamente vigente e se constitui em um
ato jurídico perfeito. E assim se constituindo, não pode o Poder Público
atender a uma norma jurídica que lhe é posterior e que viola esta sua
continuidade, esta sua incidibilidade.
Quanto à sua segunda pergunta, qual a
avaliação do Executivo sobre a decretação da falência da Viação Belém Novo? Em
setembro do ano passado a Secretaria Municipal dos Transportes realizou uma
inspeção na empresa Belém Novo e constatou nela a completa ausência de
controle, por parte de sua direção, nos dados operacionais que compõem os seus
custos, como por exemplo, o controle sobre o almoxarifado, sob os gastos de
combustíveis, e até sob o índice de passageiro por quilômetro rodado, elemento
essencial, portanto, à composição do cálculo da tarifa. Havia, por assim dizer,
uma grande licenciosidade na operação e passageiros viajando sem passar pela
roleta e as próprias roletas não estavam abrigadas e protegidas pelo lacre
legal que é determinado para essas operações. O mais grave é que havia inúmeros
problemas nos dados contábeis da empresa o que, em nosso entender, significa
uma questão ruinosa por parte dos empresários, gestão ruinosa esta talvez
ocorrente por vontade dos empresários e mais pelas condições objetivas
financeiras da relação dessa empresa no conjunto de operações do transporte
coletivo da Cidade através do COPA. Os empresários reclamam que há dois anos
não existe um repasse junto à empresa, por parte do COPA, o consórcio que
distribui os valores da tarifa social. Portanto, não estariam fazendo esse
repasse para a Empresa Belém Novo, e nós fazemos questão de frisar que o COPA é
controlado, exclusivamente, pelos empresários do setor. Por um lado, esse
repasse estava desatualizado por culpa do Município que na gestão anterior não
patrocinou uma atualização censitária dos transportes coletivos no ano de 1988.
Além disso, os empresários que formam o COPA não tiveram condições
organizativas para suprir esta falta de controle do Poder Público e não atualizaram,
de sua parte, também, os dados necessários para que esse repasse fosse
realizado. Nossos levantamentos, os levantamentos da administração pública
indicaram que os repasses para a Empresa Belém Novo, a qual possui as linhas
com os maiores trajetos na Cidade, eram absolutamente insuficientes. O que nos
cabia fazer, neste caso, foi feito! A Belém Novo tinha uma ação judicial
reivindicando repasse junto ao COPA e nós enviamos os nossos dados à justiça
para que ela pudesse se manifestar a respeito dessa pretensão. Estes dados
estão anexados ao processo e o Judiciário vai resolver sobre a demanda da Belém
Novo sobre o COPA, visando retribuir as suas linhas de acordo com a sua
extensão e com os gastos que compõe a sua atividade. Pelos nossos cálculos, que
são ainda relativos, mas têm um mínimo de seriedade e firmeza, nos cabe
avalizar que a Belém Novo recebia, aproximadamente, metade do valor que tinha
direito o COPA. Voltamos a afirmar que o problema básico da Belém Novo foi
criado por discordância de cálculos e repasse entre os próprios empresários e
não a sua relação com o Poder Público Municipal. O que ocorreu, como
conseqüência, foi uma deterioração do serviço prestado pela Belém Novo e que se
tornou insustentável para os usuários da Cidade. A empresa alegava prejuízo com
a operação e, dentro desse quadro, o Poder Público cumpriu com sua obrigação
para procurar manter uma mínima qualidade do serviço. Assumimos as linhas da
Restinga onde se concentram os problemas mais críticos. Obviamente, ao assumirmos
essas linhas, deveríamos ficar com o percentual do repasse do COPA relativo a
elas, ou seja, a Belém Novo que recebia um repasse insuficiente passou a
receber menos porque deixou de operar em algumas linhas que antes lhe estavam
destinadas. Mas, devemos ressaltar que ao assumirmos estas linhas, nós
aliviamos a Belém Novo de parte do seu prejuízo, justamente nas linhas mais
longas e onerosas que são as linhas da Restinga. Há algumas razões intrigantes
sobre as quais, lamentavelmente, nós não podemos responder a Suas Excelências.
Por que, em primeiro lugar, o problema da Belém Novo estourou agora, se os
empresários entendem que o problema existe há mais de dois anos? É uma questão
para nós sem resposta. A empresa pediu concordata, mas pagou todas as dívidas
com bancos e com fornecedores, deixando atrasar créditos preferências, que são
os de natureza trabalhista e os tributários. Nós não entendemos porque ocorreu
este procedimento, que nos pareceu muito pesado e muito planejado. Podemos
dizer, então, que no caso concreto da Belém Novo, houve uma espécie de
autofalência. Nós estamos tomando todas as providências para que os usuários
atendidos pela Belém Novo não enfrentem problemas de transporte. Já estamos,
portanto, deslocando ônibus da CARRIS e da Trevo, para buscar dar o mínimo
atendimento para essas linhas.
Terceira pergunta: Qual a avaliação do
Executivo quanto ao desempenho operacional e financeiro das empresas Trevo,
SOPAL e VTC, ao longo do período sob a gestão da Prefeitura Municipal? O
desempenho operacional da Trevo e da VTC é bastante razoável em relação às
demais empresas do sistema de transporte coletivo da Cidade. Os custos da
operação são cobertos pela receita, mas as duas empresas enfrentam problemas da
mesma ordem. As frotas são frotas velhas, umas mais, outras menos, colocando em
dificuldade a reposição de carros quando ocorrem problemas mecânicos e
técnicos. Quanto mais velha a frota, menor é o valor que as empresas dispõem
para a manutenção da frota, porque este valor circula e é gasto de forma
rápida. A SMT está tomando medidas concretas para resolver o problema, e uma
delas é a melhoria das oficinas nas garagens, e a outra é a busca de
financiamento para a renovação das frotas. Quero comunicar aos Vereadores que
estamos fazendo uma negociação com os Srs. Empresários, feita através do
Executivo com a SMT, buscando um amplo financiamento para a renovação das
frotas. Este financiamento vem do FINAME, teria que ser sustentado através de
um projeto apresentado pela SMT, já foi apresentado, está com os empresários,
as relações com o FINAME estão elaboradas e é possível que tenhamos o
financiamento brevemente, colocando em circulação um grande número de ônibus
que poderá possibilitar, em curto e médio prazo, a superação do déficit. Em
todo o caso, as empresas sob intervenção estão pagando as dívidas contraídas
durante a intervenção, e conseguiram pagar débitos anteriores, ao mesmo tempo
em que buscam renegociar débitos com instituições oficiais. Existe um passivo
acumulado a partir do momento em que assumimos a empresa que se projeta durante
o processo de intervenção. Essa projeção, em face dos juros do mercado
financeiro e dos altos juros, é uma projeção que perturba a administração das
empresas. Em termos absolutos, a intervenção não proporcionou o aumento da
dívida, a dívida foi mantida nos patamares em que se encontrava na época da
intervenção e parte da dívida, inclusive, de algumas empresas, como por
exemplo, a Trevo, já foram saldadas e renegociadas. O caso da SOPAL é mais
grave. Foi a empresa que encontramos na pior situação financeira e operacional.
Reconhecemos que pela depreciação da frota, que é a mais velha, houve uma piora
no serviço em relação à situação anterior. Isso tem várias razões: o
endividamento da empresa, o esvaziamento financeiro da empresa, e patrimonial
feito através daquelas “medidas jurídicas” que já foram amplamente apresentadas
à população e através das quais, como é notório, a acumulação de capital feito
pelas empresas e ao longo das suas empresas foi dissociada e fragmentada em
operações que não tinham nada a ver diretamente com o transporte coletivo da
Cidade. A SOPAL é a empresa onde houve o maior processo de boicote, maior
número de ônibus estragados pela sabotagem organizada. Houve uma ação concreta
daquilo que se pode chamar de paralelismo sindical, ou seja, entidade de
funcionários controlada pelos empresários, que causaram prejuízos à operação.
Durante a intervenção, contatamos uma série de irregularidades situadas,
inclusive, no âmbito policial, como o comércio ilegal de vales-transportes,
fraudes em roletas e outras questões já do conhecimento dos Srs. Vereadores,
que se encontram em investigação pela autoridade policial.
A questão da SOPAL está sendo discutida na
Justiça. Entramos com uma ação de desapropriação que está sendo avaliada pelo
Poder Público, que está fazendo o confronto entre o patrimônio e as dívidas da
SOPAL. Nossa avaliação é que não devemos pagar nada pela desapropriação dessa
Empresa. E mais, pretendemos brevemente reduzi-la ao âmbito possível para sua
prestação de serviços de forma que nesse âmbito possível e reduzido ela preste
um serviço qualificado à população da Cidade de Porto Alegre. Estamos,
portanto, tomando providências paralelas em relação a outras linhas que
atualmente estão sendo atendidas, e mal atendidas, pela empresa SOPAL.
O quarto questionamento é: até quando o
Executivo pretende manter as intervenções e quais os reais motivos para as
últimas renovações, já que as razões invocadas, inicialmente, em janeiro de
1989 se referiam a abusos, incúria ou conduta delituosa dos senhores
permissionários? A prorrogação das intervenções se justifica plenamente. No
caso da VTC não recebemos documentos contábeis anterior à intervenção, o que
prejudicou e permanece prejudicando uma avaliação nossa sobre a situação da
empresa e impede o controle mais eficiente. No caso da Trevo, o grau de
irregularidades encontradas na empresa a partir de uma minuciosa auditoria é
extremamente preocupante. Houve, também, uma perícia da Receita Federal que
indicou a existência de problemas sérios como a manipulação nos controles de
passageiros, desvios de documentos e provável existência de caixa 2, os
indícios encontrados até o momento nos apontam para uma cassação para a
permissão da empresa Trevo. Quanto à continuidade das intervenções, a nossa
avaliação é que, com esta prorrogação, teremos condições de dar um destino
definitivo a essas duas empresas que se encontram ainda sob intervenção, e
nesse destino definitivo será integrada uma visão global da transformação do
transporte coletivo na Cidade. Isso que dizer que a nossa pretensão é não
prorrogar mais as intervenções que foram feitas na VTC e na Trevo com a
presença do Poder Público ou num sentido definitivo ou devolvendo aos
permissionários. Muito obrigado pela atenção dos Senhores.
O SR. PRESIDENTE: Primeiro
Vereador inscrito, Nelson Castan, mas antes solicito ao mesmo que nos dê a prioridade de respondermos, como
Presidente da Casa, ao Prefeito Substituto Tarso Genro, referente à promulgação
do veto rejeitado por esta Casa no dia 29. Nós tivemos uma greve dos
funcionários na quinta-feira, sexta-feira o trabalho foi até as 12 horas e em
entendimento, exatamente, com o Secretário de Governo, naquela data, nós
assumimos um compromisso de encaminhar para o Executivo todos os projetos
aprovados pelo pacote da reforma tributária, num esforço concentrado e não
poderia ser diferente com o nosso entendimento Legislativo-Executivo. Assumindo
o compromisso de encaminharmos o pacote da reforma tributária para que o Executivo
pudesse divulgar no Diário Oficial do dia 30.12, nós também, ao mesmo tempo,
através do telefone – eu também estou prestando contas aos companheiros de
Mesa, Liderança, e demais Vereadores, pedimos para o Secretário se ele pudesse
nos informar se iria acompanhar a rejeição do veto, respeitando a posição da
Câmara ou não. Ele mesmo com a sua atenção nos ligou logo a seguir dizendo que
a Lei era nº X, que não iria acompanha,r se a Câmara tivesse que promulgar que
poderia fazê-lo. Por isso que nós não respeitamos às 48 horas pelo entendimento
que nós tivemos com o Executivo, porque também necessitávamos que esse
resultado fosse divulgado pelo Diário Oficial até o dia 30, assim como
necessitava a Prefeitura com os outros projetos. Esclarecido para os companheiros
de Mesa, de que foi o Presidente que assinou a promulgação da Lei, aos Líderes
e aos demais companheiros Vereadores desta Casa.
O SR. TARSO GENRO: A
informação do Presidente é totalmente
verdadeira, nós dissemos que não íamos acompanhar o veto, nós estamos
tratando da questão do prazo, que é irrenunciável, é uma norma de ordem
pública. A informação do Presidente é totalmente correta.
O SR. NELSON CASTAN: Presidente
Valdir Fraga, Prefeito em exercício Tarso Genro, antes de iniciar as minhas
dúvidas eu perguntaria ao Presidente se podemos conduzir este debate, essa
busca de esclarecimento, evidentemente, com a concordância do Vice-Prefeito, no
sentido de que houvesse um dinamismo nas perguntas e respostas, evidentemente
que respeitando o alto nível do relacionamento que deve prevalecer entre a
Câmara Municipal e o Executivo para que não se repita, hoje, experiências
passadas em que a presença, nesta Casa, do Sr. Prefeito acabou se revelando de
maneira protocolar não permitindo um debate no sentido de que, através da
Câmara, a população de Porto Alegre seja esclarecida sobre a série de questões
que angustiam a nossa Cidade a respeito do transporte coletivo.
O SR. PRESIDENTE: Nós
estamos, neste encontro, respeitando o Regimento Interno, ponto, virgula. Por
isso que V. Exª, conforme o Regimento Interno, após concluída a exposição o Prefeito responderá ao temário
objeto de convocação, iniciando-se a interpelação pelos Vereadores observada a
ordem dos itens formulados. V. Exª fará a pergunta item por item, e o Prefeito
substituto vai responder a Vossa Excelência. Teremos 10 minutos para V. Exª, e
o Ver. João Dib também está inscrito. Dez minutos para cada Vereador e o
Prefeito responderá, item por item, conforme o desejo de cada um. Não
precisará, talvez, responder a todos, tendo em vista que já respondeu para V.
Exª e talvez não necessite responder para o Vereador seguinte.
O SR. NELSON CASTAN: Sr.
Presidente, significa dizer que há uma pergunta e imediatamente a resposta. E daí a próxima pergunta, e
assim sucessivamente.
O SR. TARSO GENRO: Sr.
Presidente dentro do princípio da boa fé que tem norteado a relação do
Executivo com a Câmara, eu por mim liberalizo completamente o debate dentro das
normas de convivência respeitosa e democrática que tem de haver nesses Poderes.
Estou à disposição para renunciar a qualquer abrigo que o Regimento Interno me
dê que prejudique esclarecimentos pedidos pelos Srs. Vereadores. Portanto,
estou à disposição com a forma e com o conteúdo que quiserem desde que,
evidentemente, dentro do tema para o qual eu fui convocado aqui nesta Casa.
O SR. PRESIDENTE: Nós
vamos pela linha do Regimento Interno, por favor, item por item. Com a
palavra o Ver. Nelson Castan. V. Exª
tem 10 minutos.
O SR. NELSON CASTAN: Prefeito,
eu suponho que V. Exª tenha pleno
conhecimento de alguns dados que chegam até esta Casa, inclusive a partir de
relatórios da própria Secretaria Municipal dos Transportes. Vou listar uma
série de itens e pediria, em primeiro lugar, se S. Exª tem conhecimento disso
e, em segundo lugar, como interpreta esses fatos. No mês de novembro de 1989
com relação ao mês de novembro de 1988, os relatórios da Secretaria Municipal
dos Transportes acusam a redução do número de passageiros transportados pela
SOPAL em aproximadamente dois milhões de passageiros. A tarifa vigente, hoje,
vale dizer que a empresa SOPAL deixou de arrecadar cinco milhões e seiscentos
mil cruzados apenas no mês de novembro. A pergunta que se impõe é se esses dois
milhões de passageiros adquiriram condução própria ou se mudaram da Zona Norte,
deixaram de utilizar a linha da SOPAL ou alguma outra possibilidade. O fato é
que dois milhões de passageiros evaporaram. Aí, também, estão as razões das
dificuldades financeiras da empresa. V. Exª tem conhecimento de que após as
intervenções e, no caso da Companhia Carris Porto-Alegrense, desde o inicio da
administração, alguns tributos deixaram de ser recolhidos como, por exemplo, o
IAPAS e, em algumas empresas o próprio FGTS? V. Exª sabe muito bem, como
advogado trabalhista brilhante que a seriedade desse fato é bastante grande, as
implicações também são grandes. Essa Casa, inclusive, aprovou um Projeto de Lei
transferindo recursos da CARRIS, na forma de conversão de dívidas do ISSQN, e
na forma de transferência de um imóvel, sendo que o Parecer desse Projeto de
Lei do Executivo foi dado por este Vereador, tendo o Parecer sido favorável com
vistas a propiciar recursos a CARRIS. Hoje, nos damos conta de que todo aquele
esforço não pode frutificar em benefícios da CARRIS porque a empresa, se
quisesse vender esse patrimônio que lhe foi doado não poderia em virtude de não
ter um documento do IAPAS chamado CND, Certidão Negativa de Dívida, e sem o
qual a CARRIS não pode transformar esse recurso em patrimônio financeiro a bem
de investir na sua finalidade que é a renovação e a expansão da frota. Esse
fato, também, acontece nas demais empresas sob intervenção e isso nos parece da
maior gravidade.
Um outro aspecto, Prefeito, a respeito da
situação dos aproximadamente 500 funcionários da empresa Belém Novo, e aqui
manifesto a V. Exª essa preocupação que lhe foi transmitida pelo próprio
Sindicato dos Rodoviários. O Sindicato dos Rodoviários se pergunta, porque na
medida do possível a Viação Belém Novo deixa de existir, enquanto pessoa jurídica,
e passa a existir em sue lugar a massa falida, se os funcionários não teriam
que ter rescindido seus contratos de trabalho com o antigo empregador e,
portanto, receberem suas indenizações e passarem a ter uma nova relação de
trabalho com a massa falida. Isto, até agora, ao que estou informado, não
aconteceu. Além do que, aqueles funcionários que foram demitidos,
anteriormente, com base na Carta de Intenções assinada entre a Viação Belém
Novo, na época concordatária, e a Secretaria Municipal dos Transportes, eu não
sei o úmero de funcionários, mas aqueles que já foram demitidos e já desligados
da Empresa ainda não receberam as suas indenizações. Como a Prefeitura pode
ajudar no zelo pelos direitos desses funcionários?
Sr. Presidente, eu gostaria de interromper,
por enquanto, porque fiz uma série de questionamentos e depois eu posso me
alongar e as questões ficam muito distantes.
O SR. PRESIDENTE: Pois
não, V. Exª teria mais cinco minutos, então, vamos desmarcar e vamos dar a V.
Exª mais cinco minutos no segundo tempo. Com a palavra o Sr. Tarso Genro.
O SR. TARSO GENRO: Nobre
Ver. Nelson Castan, ex-presidente da CARRIS, não poderia fazer perguntas mais
apropriadas e mais sérias para o debate que estamos travando aqui.
Em relação à primeira questão colocada por V.
Exª, que se refere aos dois milhões de passageiros, se trata de equívoco
numérico da PROCEMPA e já foi corrigido. Não houve esta diminuição de dois
milhões de passageiros. Com o movimento que houve na PROCEMPA e o trabalho
precário que se pode desenvolver lá dentro houve um equívoco numérico que já
foi corrigido. Não houve esta redução, mas vejo que V. Exª cumpre realmente com
a sua destinação enquanto Vereador do transporte coletivo, pois estava atento
para esta questão, que se ocorresse, seria da maior gravidade. Eu me congratulo
com sua preocupação. Os transportados pela SOPAL permanecem relativamente os
mesmos. Em relação aos tributos da CARRIS e demais empresas, nas demais o
recolhimento do FGTS e do IAPAS estão relacionados com o problema estrutural da
empresa. Quando chegamos nas empresas eles já não eram pagos regularmente e
isto formava uma bola de neve a ponto de se tornar incontrolável, ou seja, o
não pagamento dos tributos é herdado da gestão anterior destas empresas pelos
permissionários. Estamos negociamos esta dívida com o IAPAS e no que se refere
ao FGTS, quando existe obrigação legal de pagar, isto pode ser pago diretamente
ao empregado, e daí comunicado a autoridade gestora do Fundo de Garantia, que
vai cobrar a correção monetária que seria devida ao sistema. Em relação a
CARRIS, houve um certo atraso porque tivemos que reforçar a frota para atender
algumas demandas fundamentais da população, como a linha T-6. Já há uma
negociação com o IAPAS e o andamento desta negociação vai permitir que se
coloque em dia estas obrigações de natureza previdenciária. O único prejudicado
com a ausência de pagamento desses tributos é a empresa. Estamos dirigindo todo
o esforço para buscar regularização desta situação. Em relação aos funcionários
da Belém Novo, que permanecem empregados da Massa Falida, eu creio que há um
equívoco na interpretação jurídica do fato. Trata-se da determinação de uma
rescisão do contrato de trabalho em face da falência. O que ocorre é uma
sucessão atípica do empregador. Ele deixa de ser a instituição empresarial
regular, registrada e formalmente articulada, com toda a legalidade existente e
passa a ser a Massa Falida, porque o conceito de empregador não remete para a
pessoa física, remete para a universalidade dos bens da empresa e, portanto, à
pessoa jurídica. Portanto, a sucessão se opera legalmente, independentemente da
vontade do Síndico e dos empresários, permanecendo estes com todos os direitos
subjetivos em relação à empresa contra a Massa Falida. Não há rescisão, no caso,
do contrato de trabalho. Em relação às indenizações dos trabalhadores
demitidos, nós já autorizamos, já concordamos e já comunicamos isto à Massa
Falida, que uma frota de mais ou menos 30 carros que estão desativados e que
legalmente não podem mais operar seja leiloada, urgentemente, para responder a
estes direitos trabalhistas de empregados que não foram atendidos pela empresa
no momento da rescisão.
O SR. NELSON CASTAN: Uma
dúvida que já foi manifestada nesta Casa por vários Vereadores é por que a Prefeitura,
sabendo da situação difícil da Empresa Belém Novo, inclusive pelos motivos
arrolados por V. Exª sobre a questão do repasse – na verdade o repasse sempre
existiu, V. Exª, acho que por um lapso, fez referência de que ele tenha deixado
de existir, mas ele sempre existiu, só que num nível aquém do que a Empresa Belém Novo julga correto –
mas a questão é, em a Prefeitura sabendo, há muito tempo, da situação difícil
da Belém Novo, em primeiro lugar, por que não investiu lá há mais tempo,
enquanto investiu em outras empresas com uma situação relativamente melhor, do
ponto de vista operacional? Em segundo lugar, pela experiência que temos no
transporte coletivo, e isso, também, é do conhecimento de muitos Vereadores,
nesta Casa, sabendo que, há anos, é um sonho dos empresários do transporte
coletivo ver a CARRIS operando as linhas cronicamente deficitárias da Restinga,
e, curiosamente agora, sob a Administração Popular, o sonho dos empresários
está em vias de ser atendido. É uma perplexidade que assola esta Casa, sabendo
da dificuldade de operar as linhas da Restinga, dos prejuízos que está sofrendo
a CARRIS por isso, fica a dúvida, porque entra a Administração Popular, porque
entra a CARRIS em socorro, indiretamente, do transporte como um todo em
benefícios das empresas privadas. Esse é um problema bastante delicado e é uma
surpresa ver esse desdobramento sob a gestão municipal de V. Exª, da
Administração Popular. Outra questão é a respeito do vale-transporte. Nós
acusamos as dificuldades que a bipartição do sistema causaria, e causa aos
usuários, é um problema que persistirá enquanto houver dois ou mais sistemas
coexistindo. Além disso, foi informado que a administração do vale-transporte,
pela Prefeitura, daria recursos para a renovação de frotas das empresas, e nós
sabemos que, até agora, esses recursos aparentemente estão sendo canalizados,
em boa parte, à Companhia Carris que vem, efetivamente, adquirindo unidades
novas e não sabemos como está sendo gerido esse sistema, o que está indo para a
CARRIS, o que está indo para as outras empresas, se é verdade que esses
recursos estão indo também para as empresas SOPAL, Trevo e VTC, a dúvida é no
sentido de qual a destinação desses recursos? Já que estas três empresas, com
exceção da CARRIS, não estão renovando até agora, não compraram uma unidade
nova sequer. Então, esses recursos estão sendo consumidos e utilizados para uma
finalidade que não aquela informada, proclamada e prometida pela Administração
Popular.
Outra questão é a respeito do COPA. É verdade
que a SMT chegou à conclusão de que o repasse à empresa Belém Novo é aquém do
que seria correto? E já a Administração Municipal mostrou esta vocação de
interferir, monitorar duramente o sistema de transporte em Porto Alegre com
intenção de melhorá-la, por que a Prefeitura, de alguma maneira, também não
intervem no COPA no sentido de restabelecer algum equilíbrio que faça justiça a
verdade dos números? Já que existe esta decisão por parte da Prefeitura porque
isso não foi feito a tempo de evitar a falência da empresa Belém Novo, já que a
Prefeitura tinha, anteriormente, pleno conhecimento dessas deficiências, tanto
da empresa, uma deficiência histórica, como também tinha conhecimento de
deficiências mais recentes nos volumes financeiros repassados como complementação
tarifária?
Por último, Prefeito Tarso Genro, fica aqui a
opinião deste Vereador, que não é propriamente uma pergunta, mas é uma
manifestação, evidentemente, dentro do assunto que estamos tratando, aqui,
hoje. É de desconformidade com relação à decisão proclamada de V. Exª no
sentido de que o Executivo não aceite o veto, digamos a derrubada do veto
aprovado nesta Casa e pretende recorrer à Justiça. Eu entendo que,
juridicamente, é um caminho normal e é um direito que assiste ao Executivo, mas
também entendo que, politicamente, isto representa um desrespeito a esta Casa,
isto representa uma forma de tratamento do Poder Executivo com relação à Câmara
Municipal que não é bom conselheiro para as relações necessariamente boas que
devem prevalecer entre os dois Poderes.
O SR. PRESIDENTE: Com a
palavra o Prefeito Tarso Genro.
O SR. TARSO GENRO: Gostaria
de me referir, em primeiro lugar, à última colocação de V.Exª, para manifestar
a minha mais radical divergência com este juízo feito por V. Exª. É da natureza
dos estados democráticos, é da natureza da relação harmoniosa entre os Poderes,
que quando existem divergências entre os Poderes, o Poder Judiciário seja
chamado para mediar e resolver sobre essas divergências. Nós não conhecemos
outra forma no estado democrático de que cristalizado uma divergência
respeitosa entre Poderes, seja levado o Judiciário a manifestar-se sobre este
problema. Não foi uma nem duas vezes, e nós nunca consideramos uma afronta ao
Executivo, e Vereadores, individualmente, recorreram à justiça contra a decisão
da Prefeitura Municipal, encaramos isto como um direito e entendemos que o
exercício do direito subjetivo ele jamais pode ser tido como um desrespeito,
pelo contrário, é o mais profundo respeito de que se pode atribuir ao regime
democrático e à relação harmoniosa
entre os Poderes, que um dos Poderes recorra à justiça quando existe uma
divergência a respeito de um conceito legal, ou de um instituto jurídico de
qualquer natureza. Nós apelamos para os Srs. Vereadores que não tomem isso como
um desagravo, pelo contrário, vejam isso como uma homenagem, vejam isso como
uma atitude respeitosa, porque o desrespeito a esta norma da Câmara de
Vereadores é que seria, sim, um agravo e não um pedido de manifestação do
judiciário a respeito desta questão. Somente na época dos regimes militares é
que autoridade pública se socorria da força bruta para impor os seus pontos de
vista. Num regime democrático existe um dos Poderes, o Poder Judiciário para
que se manifeste quando essas divergências adquirem um estatuto importante para
as políticas públicas do Município e para o próprio respeito que a Câmara de
Vereadores merece da população da Cidade. Por que a Prefeitura não interviu há
mais tempo na Belém Novo? Em primeiro lugar, se deve deixar bem claro que o
problema da Belém Novo não é um problema novo, é um problema antigo que se
arrasta, sem a menor sombra de dúvida, há mais de três anos na Cidade. A
situação em que a Belém Novo se encontrava, e que apanhamos como situação já
dada, se origina de todo um processo de sucateamento do transporte coletivo que
existiu nos últimos anos na Cidade. A situação da Belém Novo não pode ser
atribuída a uma política da Administração Popular, nós apenas recolhemos, na
situação do transporte coletivo, situações já dadas. Quero dizer que não estou
fazendo um juízo de valor a respeito de competência ou incompetência dos
governos anteriores, digo isso de forma transparente. Sabemos que é uma
situação muito penosa, que existe uma crise de transporte coletivo, inclusive
em escala nacional, mas me parece que não é justo, do ponto de vista político
e, também, como apreciação técnica, imputar à Administração Popular os
problemas relacionados com a Belém Novo. O que fizemos, quando a situação se
torna aguda em mais esse “font” do transporte coletivo, foi procurar um diálogo
respeitoso com os dirigentes da Belém Novo e, através desse diálogo,
estabelecer pontes de socorro para aquela população dessa zona, que é uma das
mais populosas da Cidade, inclusive assumindo linhas para que a Belém Novo
pudesse operar, ainda que num âmbito mais reduzido, com mais eficiência a
assunção dessas linhas que cedeu, com a concordância, com o diálogo feito com
os senhores empresários. Não intervimos há mais tempo porque não tínhamos
possibilidades técnicas de realizar uma intervenção que fosse mais qualificada
do que o produto dessa relação determinada pelo diálogo com os senhores
empresários. O nosso primeiro movimento, sempre, é o movimento do diálogo, é o
movimento da discussão, do debate e do convencimento recíproco. Só apelamos
para soluções de caráter administrativo, dentro do âmbito da interferência do
Poder Público, quando esse diálogo falha e quando esse diálogo se torna
improdutivo.
Passo para uma pergunta que foi feita ao
final: a CARRIS entrou não em defesa dos interesses dos empresários privados
nestas linhas. Ao contrário, ela entrou como empresa pública que é, para
responder aos interesses da população da região. A nossa ótica não é, como já
temos dito reiteradas vezes aos senhores empresários, e estamos reiterando
neste memento, que existe um espaço consolidado de 50% das operações garantidas
aos senhores permissionários da Cidade. Estamos trabalhando e dialogando nesta
direção. O nosso entendimento de que empresa pública tem essa finalidade, ou
seja, não só prestar um bom serviço à população, como também prestando esse bom
serviço, socorrer em momentos de crise regiões da Cidade em que a população, a
cidadania seria violentamente afetada pela carência de serviços, e por toda a
incúria que gerou a situação a qual se viu jogada a Belém Novo nos últimos três
ou quatro anos.
A questão da bipartição do vale-transporte
está relacionada a uma decisão de natureza judicial, o nosso objetivo era e
permanece sendo o controle de todo o vale-transporte da Cidade. E os resultados
que estamos recolhendo em relação ao vale-transporte, o Ver. Nelson Castan tem
razão como grande conhecedor do sistema que é, boa parte dele está sendo jogado
para a potencialização da CARRIS para que ela possa enfrentar esses vazios de
respostas dos permissionários, como é o caso da Zona Sul. E também para
potencializar a CARRIS visando a sustentação de uma frota razoável que permita o atendimento de acordo com as
suas finalidades de empresa pública.
Em relação à questão do COPA, nós,
lamentavelmente, não temos este poder sobre o COPA. E esta situação está sendo
decidida também na Justiça – existem ações na Justiça que irão decidir esta
questão. Do nosso ponto de vista, a nossa visão é que a própria questão do COPA
deve participar de um amplo sistema de relação, negociação, e está em andamento
com os senhores permissionários, balizados os pontos mínimos de intervenção, da
autoridade pública do transporte coletivo consolidado uma relação de respeito
recíproco entre as partes, visando com que tenhamos, através desta negociação,
um novo estatuto para o transporte coletivo da Cidade, inclusive que estas
questões judiciais sejam politicamente acordadas em benefício da população
trabalhadora da Cidade. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo
orador inscrito é o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr.
Prefeito Municipal, Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Sou Vereador
conseqüentemente, legislador, mas acho que um dos problemas deste País é o
excesso de leis, acho que um dos problemas deste País é não cumprir leis,
portanto, não me preocupa se o Prefeito vetou a iniciativa da Câmara de exigir
que as intervenções o que acho absolutamente correto, porque eu acredito numa
lei que se chama a lei do bom-senso. Essa deve presidir todos os nossos atos.
Onze meses passados de intervenção e o Município ainda não tem solução para o
transporte coletivo urbano, e pelo que eu posso verificar, até agora, também
não vai ter. Logo no início da intervenção, procurado pelo Secretário dos
Transportes, eu perguntava a ele: já que há intervenção em algumas empresas,
porque não na Belém Novo, que no entendimento deste Vereador está muito mal, e
o Secretário respondia que, realmente, estava muito mal e isso tornaria
extremamente difícil para a Secretaria fazer o acompanhamento. Onze meses é
tempo suficiente para solucionar qualquer problema de transporte coletivo ou
pelo menos conhecê-lo com profundidade.
Agora, algumas coisas que foram ditas com
respeito à Câmara eu gostaria que também este respeito se estendesse aos
Vereadores e se há alguma coisa que este Vereador não gosta é de resposta
irônica, e isso não está sendo dirigido ao Vice-Prefeito no exercício de
Prefeito, mas especialmente ao Sr. Prefeito Olívio quando este Vereador, e foi
o único que disse isso, que a Prefeitura que não tem recursos para outras
coisas estaria dando 13 milhões de
cruzados à CARRIS. O Vereador, ironicamente, foi desmentido, pois eu vou dizer
que agora não são mais 13 milhões, agora são 20 milhões de cruzados para a
CARRIS, porque a lei, por Emenda da Liderança do PT, que era de 3,5 milhões a
partir de 1º/11, aplique-se os reajustes e nós teremos 20 milhões. A Prefeitura
que não tem recursos está dando 20 milhões.
Mas aí está a minha pergunta: Porto Alegre tem
tarifa social, e tendo tarifa social, o dinheiro arrecadado dever ser
redistribuído e a Belém Novo faliu porque a Prefeitura, a partir de 1986,
espoliou a Belém Novo. A CARRIS tem arrecadado muito mias do que lhe seria
permitido por cálculo e pergunto ao ilustre Prefeito em exercício se é possível
uma Belém Novo arrecadar, na Restinga, menos de 5 cruzados por quilômetros e a
CARRIS arrecadar, na Auxiliadora, 25
cruzados por quilômetros e não ter que repassar nada à Belém Novo. Se isso for
correto, os meus números estão errados e a lei do bom-senso foi derrogada. É
por isso que eu digo: por que dar recursos de 25 milhões de cruzados à CARRIS,
porque pensar em encampar mais e porque não deixarem as empresas administrarem
com uma fiscalização rigorosa e um planejamento
criteriosos?
O SR. TARSO GENRO: Nobre
Ver. João Dib, creio que V. Exª merece e recebe da Administração Municipal o
maior respeito e consideração, especialmente pela condição de ter sido
Prefeito, e por isso profundo conhecedor da situação da Cidade. Não compartilho
da visão de que o Prefeito Olívio Dutra tenha se referido a V. Exª com qualquer
tipo de ironia. Da minha parte V. Exª jamais mereceria um tratamento desse
tipo. Aliás, isto tem sido comprovado pelo nosso relacionamento. Tenho acompanhado
as posições de V. Exª ao longo de sua vida pública e apesar das nossas
divergências ideológicas e políticas, costumo dizer que o comportamento de V.
Exª tem sido um comportamento que afirma o regime democrático e a necessidade
de um convívio respeitoso entre contrários. Recuso, da minha parte, qualquer
possibilidade de uma resposta irônica a Vossa Excelência. O repasse que vai ser
feito à CARRIS, nobre Ver. João Dib, é um repasse conciliado entre os Poderes,
porque é uma proposta do Executivo que foi aprovada pela Câmara de Vereadores.
Portanto, nós assumimos como responsabilidade solidária entre os Poderes este
repasse à CARRIS. Entendemos que ele é necessário e extremamente importante. Eu
creio que já está provado, pelo menos nas empresas públicas que são controladas
com seriedade e com transparência – e aqui eu me refiro também à administração
anterior e às demais administrações que nos precederam – que com erros
eventuais, todos os excedentes adquiridos por uma empresa como a CARRIS foram
investidos em serviço, foram investidos na própria CARRIS. Tem sido uma
tradição da Empresa CARRIS, com exceção de alguns períodos, e eu sou testemunha
direta de que isto não aconteceu, porque era advogado trabalhista, e sou
advogado trabalhista, apenas em suspenso, atualmente. Nós fizemos uma perícia
naquela época, na discussão da produtividade dos salários dos trabalhadores e
V. Exª sabe que sou advogado sindical, e constatamos que naquele período, não
interessa qual é e nem aqui estou me referindo a qualquer pessoa presente, a
CARRIS estava fazendo a transferência de excedente destinado ao salário dos
seus diretores. Foi um pequeno intervalo que houve na tradição da CARRIS de
reinvestir na frota na qualidade do serviço, embora possam existir visões
filosóficas diferentes, inclusive a
respeito da natureza do serviço e da natureza da administração de uma empresa
como a CARRIS. Por isso, este repasse, que hoje se encontra em termos de 20
milhões de cruzados, nós prometemos a V. Exª e à Câmara de Vereadores, que será
usado o melhor critério, a maior seriedade para potencializar o atendimento da
CARRIS, no atendimento que a população merece. A nossa visão a respeito da
solução do problema do transporte coletivo na Cidade – e V. Exª é muito duro
conosco quando diz que não haverá solução, é um juízo que V. Exª tem o direito
de fazer, mas nós queremos dizer que estamos fazendo tudo para que tenha
solução e estamos a caminho desta solução em cima desta postura – a solução do
transporte coletivo na Cidade e V. Exª sabe, como Prefeito que foi, não é uma
solução simples e que se consegue resolver rapidamente. Eu diria, até, e V. Exª
há de concordar comigo, que a questão do transporte coletivo, em escala
nacional, é uma questão estrutural. Enquanto que nos Estados Unidos, fui visitar
e estudar a questão, sem ônus para o Município, o Poder Público dispõe e
investe a metade dos recursos que circulam no transporte da Cidade, de todo o
sistema, aqui temos o nosso Poder Público sendo mediador e autorizador de juros
escorchantes que não tem condições de sustentar, a não ser o socorro ao mercado
financeiro. Enquanto num País, que é apontado como o primado do capitalismo
desenvolvido, temos uma intensa presença controladora e diretora do transporte
coletivo – em todas as grandes cidades, os transportes praticamente
estatizados, no que se refere ao controle – temos, aqui, no nosso País, e não é
culpa dos nossos empresários, é culpa de uma estrutura viciada que está na
origem do estado brasileiro, temos um tipo de relação que não permitiu que as empresas,
e mesmo os empresários que buscavam fazer isso, era uma grande parte, se
transformassem em transportadores eficientes, que tivessem uma rentabilidade e
uma capacidade de investimentos no setor.
Portanto, essa situação estrutural do
transporte é grave e acreditamos que estamos enfrentando dentro das nossas
possibilidades. Não intervimos na Belém Novo, naquela oportunidade, porque a
nossa avaliação técnica é que para enfrentar o locaute, que os empresários
estavam propondo, precisávamos intervir em empresas que representassem zonas
estratégicas da cidade, inclusive, com empresas que tivessem um quantitativo de
carros, uma estrutura suficiente para manter, ainda precariamente, os serviços.
Não intervimos, depois, na Belém Novo, porque tentamos, através do
monitoramento e do que chamamos de intervenção branca, buscar soluções que não
onerassem, não financeiramente a Prefeitura, não se trata dessa questão, mas
que não fizesse com que a estrutura técnica da Prefeitura, para manter as
outras intervenções, fosse prejudicada, já que nós, também, fomos colhidos de
surpresa com intervenções que fomos obrigados a fazer. Por isso não fizemos a
intervenção na Belém Novo, não nos sentimos capacitados para fazer uma
intervenção que tivesse a possibilidade de que naquele momento melhorar o
serviço como seria o objetivo, e sim, fizemos o monitoramento, o acompanhamento
e a substituição das linhas necessárias quando o Poder Público foi chamado pela
objetividade, pela necessidade de prestar o serviço desta maneira.
O SR. JÃO DIB: Fiz uma
pergunta e não me foi respondida. Se tivesse havido intervenção na Belém Novo,
inicialmente, e se houvesse a intenção de solucionar os problemas de
transportes, efetivamente, nós não teríamos a Belém Novo arrecadando menos de
cinco cruzados por quilômetros e a CARRIS mais de 25 cruzados por quilômetros
não repassando desde 1986, na Administração Castan, os recursos que a CARRIS
deveria repassar a Belém Novo e a CARRIS está recebendo, agora, 20 milhões do
Município. Esta pergunta não foi respondida.
O SR. TARSO GENRO: No
nosso entendimento, Ver. Dib, é que uma eventual intervenção na Belém Novo não
determina por si só este diferencial no repasse do COPA, que vimos que isso
ocorreu, tanto é verdade que quando a situação se tornou conflitiva, a decisão
foi para o Judiciário e o que o Município fez foi apresentar os dados,
urgentemente, para que esta decisão fosse iluminada tecnicamente com os dados
com que nós dispúnhamos, inclusive concordando com sua tese, a tese do
prejuízo, mas esta intervenção não modificaria a situação do COPA que estaria
fora do controle do Poder Público, já que haveria de ter uma decisão judicial
sobre ela.
O SR. PRESIDENTE: Com a
palavra o Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr.
Presidente e Srs. Vereadores. Este é um País em que, às vezes, temos muitas
dificuldades de entendê-lo em alguns aspectos. Enquanto enfrentamos grandes
problemas financeiros na área de transportes, enquanto assistimos a uma crise
na área do funcionalismo público e que, hoje, aqui se manifesta e está
presente, é que a Prefeitura, e não é apenas o caso da Prefeitura, mas é um
caso do nosso País, busca 17 milhões para pagar o carnaval e pagar a roupa, o
traje do Rei Momo de 50 mil cruzados.
Eu quero dizer, Sr. Presidente, Sr.
Vice-Prefeito em exercício Tarso Genro, que o juízo do Ver. João Dib de que não
se encontrou solução para o transporte coletivo de Porto Alegre, não é só do
Ver. João Dib, mas é também de todos nós, da população em geral que é quem mais
sofre com o transporte da Cidade, e também do próprio seguimento da
Administração Popular. É também a visão que levou o Secretário dos Transportes
a pedir exoneração. E, após onze meses das intervenções nas empresas de
transporte coletivo, nós temos que assumir a verdade de que o transporte
coletivo de Porto alegre piorou, mostrando a incompetência na sua
administração. Cada um tem a sua parcela de responsabilidade de que houve uma
piora e que as tarifas aumentaram em níveis acima da inflação, o transporte
piorou e as intervenções, que talvez tivessem até a intenção de melhorar o
transporte coletivo de Porto Alegre, não tiveram solução. O problema maior é
que o custo do transporte coletivo da Cidade de Porto Alegre agravou e não
solucionou o problema maior que é a crise do transporte coletivo em Porto
Alegre. Acredito até nas boas intenções da Administração que assumiu em relação
ao transporte, mas a estratégia que ela adotou em relação ao transporte fez com
que a Cidade fosse enormemente prejudicada, porque o transporte piorou para a
população que paga a tarifa do transporte coletivo. E V. Exª sabe que paga uma
tarifa alta, e dizíamos que desde a Administração Alceu Collares pagavam uma
tarifa, não por culpa do Governo Municipal por este clima, toda essa crise
econômica que atravessa o nosso País, porque a população recebe pouco. Coloco
as dúvidas sobre a autorização das intervenções levadas a efeito. Trago, aqui,
nada mais do que um documento revelador quanto a uma visão da intervenção, que
é a carta do Ver. Antonio Hohlfeldt.
Sr. Presidente, Sr. Prefeito, eu acho que isso
leva a Cidade à cumbuca em razão ao transporte coletivo de Porto Alegre. E acho
que nós temos que ter, neste momento, de um lado, a grandeza de um
reconhecimento dos erros praticados e buscar convocação ampla para resolver esse
impasse em relação ao transporte coletivo de Porto Alegre, que o Executivo
assuma os seus erros e que busque respaldo nesta Casa que está disposta a dar,
para ajudar, sua colaboração aos transportes coletivos de Porto Alegre. Há uma
série de erros que estão prejudicando a população que é vítima entre as lutas
da Administração Municipal e a Associação dos Transportes de Passageiros em
relação aos vales-transportes. Venham a esta Casa e busquem o amparo à
unificação dos vales-transportes para que a população não sofra no processo de
tudo que é cor para enfrentar qual o ônibus que vai pegar. Enquanto tivemos a
oportunidade de dar um exemplo, unificando a passagem escolar, a Administração
Popular desunificou o transporte coletivo gerando mais transtorno para o já
cansado usuário do transporte coletivo de Porto Alegre. Por isso, acho que a
Administração Municipal tem que ter a sensibilidade de reconhecer seus erros e
tentar equacionar os problemas, trazendo as questões aqui para dentro da Câmara
Municipal onde é o fórum legítimo para as grandes discussões, razão pela qual
fui autor de um projeto que define que as futuras intervenções passem por aqui,
para que no futuro, Sr. Prefeito, quando um novo Prefeito vier a ser
eleito na Cidade e quando realizar um
ato político como esse da intervenção, venha discutir com todos os Vereadores, porque é mais fácil uma
cabeça errar do que um conjunto de 33 Vereadores que representam a vontade
política da população. Por isso, Sr. Prefeito, deixo aqui essas considerações à
reflexão sua e de todos nós, no sentido de que o Executivo e os empresários do
transporte coletivo cheguem a uma solução para esse grande problema que
enfrentamos.
O SR. TARSO GENRO: Embora
não seja o tema, tenho obrigação de prestar esclarecimento em relação às
primeiras afirmações feitas pelo Ver. Isaac Ainhorn. Se o Ver. Isaac Ainhorn
não fosse conhecido por mim, até julgaria que tivesse sido uma intervenção de
má fé em defesa da legítima manifestação que os funcionários da Prefeitura
estão fazendo nesta Casa, mas como não é má fé, é equivoco, o equívoco se
resolve com esclarecimento. A Prefeitura está em crise no seu relacionamento
com os promotores do carnaval porque não fez repasses na medida solicitada e
orçada pelas pessoas e instituição que promove o carnaval. A EPATUR busca o financiamento para o
carnaval, na ordem de 17 milhões de cruzados, junto à iniciativa privada, com o
patrocínio, exatamente porque o Poder Público não pode e não vai arcar com essa
conta. A mesma coisa ocorre com a fantasia do Rei Momo, há uma busca da EPATUR
para que esta fantasia seja patrocinada pela iniciativa privada e a Prefeitura
não vai arcar com esta despesa. Faço este esclarecimento em homenagem ao
princípio da boa fé que norteou o nosso relacionamento e em respeito, também,
aos funcionários que estão aqui lutando por melhores condições salariais, uma
manifestação legítima organizada por seu sindicato. Em segundo lugar, em
relação à questão do preço da passagem, quero lançar um desafio ao Ver. Isaac
Ainhorn para que designemos peritos, de comum acordo, para que façamos um
levantamento da evolução do preço da passagem do Governo Collares em relação à
inflação e do preço da passagem durante o primeiro ano da Administração
Popular. E mais, para ver quantas passagens cabia no salário mínimo na época da
Administração anterior e quantas passagens cabem durante o primeiro ano da
Administração Popular no interior de um salário mínimo. Portanto, eu me
contraponho a essa sua afirmativa a respeito do preço e fica feito, aqui, um desafio
público para que indiquemos peritos comuns para que este levantamento seja
feito e que seja publicado nos jornais da Cidade, em matéria paga, que me
disponho a pagar a metade e convido o Ver. Isaac Ainhorn para que pague a outra
metade para que isso seja publicado como Apedido, nos jornais da Cidade, para
esclarecimento à população de Porto Alegre. Espero que esse desafio seja feito
para que possamos dirimir essa dúvida.
Em segundo lugar, a questão da situação do
transporte coletivo na Cidade, o Ver. Isaac Ainhorn não faz uma pergunta, ele
faz um juízo, e um juízo só pode ser respondido com outro juízo. O Ver. Isaac
Ainhorn diz que o transporte coletivo, e nós concordamos com essa afirmativa e
temos que buscar a origem deste sucateamento, e a origem é precisamente o fato
de que durante a Administração anterior não houve nenhuma fiscalização sobre a
parcela de depreciação que integra o preço da passagem com conseqüente retorno
a partir de investimentos em frota do transporte coletivo da Cidade. A ausência
de fiscalização e a ausência de enfrentamento é verdade, é que determinou que
quando assumíssemos o transporte coletivo da Cidade este enfrentamento fosse
feito de maneira profundamente desigual, coma frota sucateada e com a carência
de,aproximadamente, de 350 ônibus da frota das empresas que prestam esse serviço de interesse público e de
caráter essencial à população do Porto Alegre.
Portanto, há um sucateamento, este
sucateamento é reconhecido por nós e está sendo enfrentado por nós com todas
estas dificuldades e com todos estes problemas que estamos aqui discutindo para
nos ilustrar, para nos informar e para nos ajudar solidariamente, inclusive
através da intervenção solidária feito pelo Ver. Isaac Ainhorn a respeito deste
tema.
Em terceiro lugar, tomo a sua afirmativa de
que a unificação do sistema do vale-transporte na Cidade será acolhida por esta
Câmara de Vereadores, através de uma manifestação legal, através de um
posicionamento legislativo, como um compromisso da Bancada do PDT para que
passemos, imediatamente, a estudar esta questão, elaborar um projeto conjunto
com as demais Bancadas, já que a Bancada do PDT tem um grande número de
Vereadores aliada à bancada do PT e a demais Vereadores que se solidarizarem
com esta medida, que nós tenhamos imediatamente solucionado a questão do
vale-transporte na Cidade.
Tomo esta posição como uma posição solidária e
como um compromisso.
O SR. PRESIDENTE: Com a
palavra o Ver. Gert Schinke.
O SR. GERT SCHINKE: Sr.
Prefeito em exercício, Tarso Genro, Presidente da Casa, companheiros Vereadores
e funcionários aqui presentes. Nós partimos do princípio de que o problema do
transporte coletivo de Porto Alegre combina dois elementos fundamentais. O
primeiro, de ordem estrutural em que toca todo planejamento do transporte na
Cidade, combinado com o segundo problema que no decorrer dos anos houve uma
deturpação do papel de fiscalização e planejamento sobre o transporte coletivo
urbano por parte da Prefeitura Municipal. É importante salientarmos o estado em
que a Prefeitura encontrou o transporte coletivo nesta Cidade. Seria oportuno o
Prefeito recapitular a todos as razões que o levaram à intervenção da
Prefeitura no transporte coletivo urbano. A segunda questão é que entendo que
deveríamos colocar outros elementos nesta questão do que meramente uma análise
econômica e que sempre leva à discussão em torno da tarifa do transporte
coletivo e o que isto está diretamente vinculado ao poder aquisitivo da
população em geral. Eu pergunto ao Prefeito em exercício, no sentido de a
Prefeitura planejar, estruturalmente, o transporte na nossa Cidade, que medidas
tem tomado neste sentido? Vamos ser mais objetivos: o que a Prefeitura tem
pensado no sentido global do transporte coletivo, em adotar outras tecnologias
que também podem trazer, assim, uma redução da tarifa. Temos exemplos de
iniciativas de outras capitais, como São Paulo, Campinas, no que toca à adoção
de gás natural para os ônibus e que baratearia a tarifa a médio e longo prazo.
O SR. PRESIDENTE: No
início, o Vice-Prefeito respondeu esta mesma pergunta para o Ver. Castan. Temos
que tentar fazer com que a exposição não seja repetitiva e vamos manter a
segunda parte de sua pergunta.
O SR. TARSO GENRO: Eu já
havia mencionado, recapitulando a intervenção, as providências que estão sendo
tomadas neste sentido. Em primeiro lugar, um esforço de apoio técnico dos
empresários para renovação da frota. Estamos no fim de uma negociação, a SMT já
fez a sua parte e esperamos que o FENAME abra as suas mãos neste apagar das
luzes do Governo Sarney. Em segundo lugar, estamos operando na Zona Norte, num
convênio com a TRENSURB, para a integração de trem-ônibus na Cidade, melhorando
significativamente o transporte coletivo naquela região, inclusive buscando, o
mais rápido possível, realizar medidas técnicas necessárias para a
implementação de linhas transversais, que facilitem o fluxo da população a seus
locais de trabalho, já que temos um estudo de que 20% das pessoas que vêm ao
centro não precisariam vir, vem apenas para transbordo, o que significa um
avanço significativo do ponto de vista estrutural. Em relação do transporte a
gás, já abrimos um processo de negociação com a Petrobras, e o Ver. Gert teve
uma participação decisiva visando que a Petrobras nos assegure a possibilidade
de abastecimento a gás, no ônibus, para que possamos pensar, a partir daí, na
transformação do combustível do transporte e no barateamento que isso
determina. Finalmente, agora, no primeiro semestre, vamos começar a
implementação de um trabalho de racionalização no transporte na Zona Sul da
Cidade, tendo em vista que, na nossa avaliação, muitas das linhas estruturadas
na Zona Sul obedeceram muito mais uma lógica de clientelismo e favorecimento
político do que propriamente de estudos racionais que beneficiassem o conjunto
da população da Cidade, e da região. E estas medidas estão sendo tomadas de
maneira articulada entre elas, e já posso anunciar que na próxima segunda-feira
algumas dessas medidas serão anunciadas após uma reunião do sub-Secretário
Schmidt, o Secretário Diógenes, com este Prefeito em exercício, iniciando o
processo de racionalização e de transformações operativas que estão destinadas
ao primeiro semestre.
O SR. PRESIDENTE: Ver.
Artur Zanella.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr.
Presidente, até nem pretendia fazer alguma intervenção, mas, devido a duas
coisas, o farei, e elas se juntam. Uma delas foi a afirmação do Dr. Tarso -
primeiro gostaria de saudar o Dr. Schmidt e Dr. Tarso Genro -, que a
intervenção se deu por uma série da
casos, e em zonas estratégicas e em empresas com problemas de tamanho de
frotas. E em segundo lugar, e também com constrangimento, já que fui citado,
cronologicamente, na carta do Ver. Hohlfeldt, tratar da carta e do problema da
Belém Novo. Considero um equívoco de V. Exª dizer que ela não teve intervenção,
porque não havia necessidade estratégica, porque a Belém Novo atua na parte
mais problemática da Cidade, que é a Zona Sul, por suas grandes distâncias,
pela rarefação dos passageiros e, também, no caso da Vila Restinga, pelo
contingente operacional que passa de 100 mil pessoas. E quanto à quantidade de
carros, eu lembro que a São João – que deve ter 20 ou 30 carros, não mais do
que isso – recebeu intervenção. E o Ver. Antonio Hohlfeldt na carta diz,
claramente, que o que gerou a intervenção, a disputa histórica entre a SMT e a
CARRIS, e que nós repetimos, que gerou a intervenção e a cumbuca em que nós nos
encontramos. A versão do Ver. Antonio é diferente. E eu acho até que,
juridicamente, eu sou um simples economista e não um advogado brilhante, como
V. Exª, eu faria com que o decreto da intervenção fosse alterado, porque o
decreto fala numa calamidade pública pela não operação dos permissionários, que
agora querem operar.
Mas diz o Ver. Antonio Hohlfeldt, também, que
desde 1983 empurra-se o problema com a barriga. Eu fui Secretário dos
Transportes em 1983 a 1984, no Governo do então Prefeito João Antonio Dib, que
foi indicado – faço questão de repetir milhares de vezes – dentro das regras
constitucionais então vigentes, por um Governador eleito pelo povo que se
chamava Jair Soares. Foi eleito pelo povo, não foi nomeado e nem votado pela
Assembléia e diversos Prefeitos também foram indicados assim pelo PDT, pelo
PMDB, inclusive o Dr. Mário Covas foi indicado da mesma forma, e o Governador que
indicou o Dr. João Antonio Dib foi eleito pelo povo.
Então, fazendo esta ressalva, eu vejo aqui
também que no dia 31 de outubro de 1989, isto é, há meses o Ver. Antonio
Hohlfeldt, então Secretário, na sua carta de saída dizia, claramente, que o
problema ia estourar e ainda dava as sugestões: que se tinha que fazer ou o
aumento do custo da tarifa, ou a maneira de pagar esta empresa. E dizia,
também, que outra alternativa a ser colocada, e talvez fosse a mais viável, é
uma grande e objetiva negociação, que precisa ser feita de imediato, chamar a
Trevo e a VTC, combinar o fim da intervenção, e após a discussão necessária com
cada empresa, fazer com que ambas assumam em conjunto parte da Belém Novo, que
assim cairia totalmente fora o que seria o ideal, ou ficaria com pequena parte
da operação. E dizia mais o Ver. Antonio, naquela época, que a CARRIS, queria
ou não, vai ter que entrar no jogo de assumir as linhas Belém Novo”.
Então, não concordo, nem discordo das
afirmações do Ver. Antonio Hohlfeldt, as afirmações são dele, afinal. Mas quero
recordar que isso foi em 31.10.89. Quero lhe dizer que em fevereiro, na época
da intervenção, e com um grupo de Vereadores, fui à SMT e tratamos do caso da
Belém Novo. A pergunta: foi distribuído um folheto na Restinga onde dizia
“fiquem de olho nos Vereadores, o transporte na Restinga só será resolvido com
a aprovação do projeto de repasse de auxílio à CARRIS”. O folheto foi
distribuído aos moradores, etc. Em função disso, quando foi aprovado o auxílio
à CARRIS, quando eu informei ao Ver. Flávio Koutzii que o Projeto estava
errado, tentando cooperar, apresentei uma Emenda dizendo que já que aquele
dinheiro era para resolver o problema da CARRIS, que 50% do valor do empréstimo
deveria ser utilizado para a compra de ônibus para a Restinga. Então,
finalmente a pergunta: a CARRIS vai ficar, efetivamente, com o controle do
transporte da Restinga? Os recursos serão investidos, metade ou menos, no
transporte do pessoal da Restinga?
Por último, uma consideração, embora o Sr.
Presidente me censure, e faço isso com a ausência dos funcionários que aqui
estavam. Comentava com o Ver. Isaac Ainhorn que, num casamento de membros da
comunidade israelita tem uma parte muito bonita em que se é quebrado um copo de
cristal – simbolizando a confiança – e a confiança e o casamento, quando se
quebram, não voltam mais. Faço um apelo a V. Exª que, de alguma forma, se
restabeleça o clima de diálogo com os funcionários. É o apelo que eu faço a
Vossa Excelência.
O SR. TARSO GENRO: Ver.
Artur Zanella, além de outras discordâncias, tenho uma discordância de fundo
com a exposição de V. Exª, quando V. Exª afirma ser um simples economista. V.
Exª é um brilhante Vereador e um brilhante economista, também, não só pela
profundidade que sempre se manifesta a respeito dos problemas do Município e
mesmo do País, como também pela seriedade com que enfrenta as questões
propostas pelo Executivo. Ordinariamente, evidente pela oposição, porque esta é
a sua função política aqui nesta Casa. E em relação à distribuição da intervenção
nós obedecemos, Ver. Zanella, uma política traçada pelos técnicos da SMT, que
nós atribuímos a maior confiança, e não critérios determinados por nós enquanto
dirigentes políticos da Administração. E os técnicos nos recomendaram a
intervenção em determinadas empresas, não somente em relação às zonas que elas
estavam situadas, e a quantidade de veículos de cada uma dessas empresas eu
realmente esqueci de colocar outro pressuposto, mas ao estado da frota,
também a situação em que se encontrava
no momento da intervenção a frota dessas empresas que teriam que cumprir um
papel de suprir o transporte coletivo de maneira emergencial caso o locaute das
empresas se transformasse num enfrentamento com maior desdobramento temporal. O
estado da frota foi, segundo os técnicos da SMT, motivo que desrecomendou
naquele momento a intervenção da Belém Novo. Eu não estou com isso, quero
deixar bem claro, impugnando a preocupação e até as razões técnicas de fundo
que o Vereador possa ter, mas estou justificando qual foi o ponto de vista que
nos norteou nesta ação. Em relação à carta do companheiro Antonio Hohlfeldt,
nosso Vereador, eu tenho a dizer que nós temos uma polêmica interna permanente,
não só no nosso Partido, mas como também no Governo, e que essa polêmica interna
é uma polêmica construtiva e que é feita entre companheiros, e não quero dizer
que nós sejamos repositórios desse tipo de atitude, estou dizendo qual o nosso
procedimento. Porém, Antonio estava em divergência com uma série de medidas e
esse documento era um documento interno da Administração, onde o companheiro
Antonio, de forma respeitosa, de forma solidária e de forma aguda, como é o
nosso costume, colocava os seus pontos de vista que não foram os pontos de
vista empossados pela Administração Popular. Isso que levou, em última
instância, a que as recomendações do companheiro Antonio não fossem aplicadas
pela Administração Popular, pelo menos naquele momento. Então, eu lamento
profundamente, já manifestei isso em outras oportunidades, que esse documento, que
era um documento interno de elaboração da política da Administração Popular
tenha vazado e se transformado num instrumento de luta política e de disputa
contra a Administração Popular, embora queira dizer que é legítimo, do ponto de
vista da oposição, na medida em que o documento se tornou público, usá-lo no
debate político. Não tenho isso como uma questão de princípio e nem como uma
questão moral, só lamento que essa
questão interna, e lamento do nosso ponto de vista, vazasse, porque se tratava
de um processo dialético de disputa e de debate para elaboração de uma
determinada política.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª
permite um aparte? (Assentimento do orador.) Gostaria de ressalvar que esse
documento não vazou por meu intermédio, eu o recebi pelo correio, e o Ver.
Antonio Hohlfeldt declarou, aqui, o nome das pessoas que tinham as cópias. Mas
não vazou por mim. Depois que a imprensa vazou, e depois que o Ver. Isaac usou,
hoje, eu usei também, por causa do problema da Belém Novo.
O SR. TARSO GENRO: Quero reiterar
que acho perfeitamente legítimo e democrático que os Vereadores usem um
documento que se tornou público para realizar o debate sobre a questão. O meu
lamento e a minha preocupação estão relacionados apenas com a nossa posição,
com o nosso debate e com a nossa vida interna, vida interna de um governo, e o
Ver. Artur Zanella já participou de governo e sabe que existem questões que são
discutidas internamente, o que é absolutamente natural no processo de formação
democrática de uma política, de um partido, de uma frente ou de uma articulação
política que esteja responsabilizada pelo governo. Creio que, com isso,
respondi as perguntas do Ver. Artur Zanella e, com relação à questão da
Restinga, quero dizer que o nosso objetivo é uma solução negociada para lá. Eu
não poderia responder ao Ver. Artur Zanella, com a transparência e a
honestidade que sempre procuro dar às minhas declarações, se a CARRIS vai ou
não permanecer lá, mas quero dizer que, brevemente, teremos uma posição sobre o
assunto, que será comunicada, publicada e apresentado à população de Porto
Alegre. Em relação ao diálogo com os funcionários, com o pedido do Ver.
Zanella, nós reforçamos a disposição para o diálogo, ela já existe, o diálogo
já está em andamento e esse tipo de manifestação de V. Exª que se percebe
absolutamente desinteressada do ponto de vista do faturamento político, é uma
manifestação que acolhemos com a maior seriedade e simpatia e que pesará,
certamente, com nosso relacionamento com o funcionalismo.
Eu agradeço aos Srs. Vereadores pelas
perguntas que me fizeram e estou profundamente orgulhoso por ter participado deste debate em alto nível e espero ter a
oportunidade de voltar a esta Casa sempre que for necessário, sempre que for
convocado e sempre que for preciso, para os interesses da população de Porto
Alegre. Muito obrigado.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de
Ordem): Eu
busco, exatamente, a Questão de Ordem para me valer de um direito regimental de
dizer ao nobre Prefeito em exercício, Dr. Tarso Genro, de que o desafio que ele
propôs eu aceito na sua plenitude, desde que se inclua, dentro da auditoria
externa que fora levada a efeito, todos os atos praticados pelo Executivo
Municipal nas intervenções levadas nas empresas de transporte coletivo da
Cidade ...
O SR. TARSO GENRO: Não há problema algum de minha parte.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Presidente, vou procurar ser breve e, inicialmente,
agradeço a boa vontade e a disposição ao debate do Prefeito Tarso Genro.
Só quero deixar claro
alguns itens. Em primeiro lugar, isto que o Prefeito nos informa a respeito da
diferença no número de passageiros devido a um erro da PROCEMPA, eu considero
este erro da maior gravidade. Não compreendo como se explica um engano desse
tipo, de dois milhões de passageiros, e porque somente agora este fato foi
observado, porque somente agora a Administração se deu conta desse fato?
Deixo uma preocupação e
pergunto se há concordância, por parte do Prefeito, em termos de que esta Casa,
através da Comissão de Transporte, a qual eu presido, ou qualquer outro
Vereador ou qualquer outra representação desta Casa, poderia fazer uma verificação,
durante o mês de novembro, da receita efetiva contabilizada e que ingressou nos
cofres da Empresa SOPAL ao longo do mês de novembro para ver se confere o
número de passageiros com o numerário contabilizado e existente no setor
financeiro da Empresa.
Outra questão que não
foi respondida é sobre a destinação dos recursos do vale-transporte na parcela
destinada às empresas Trevo, SOPAL e VTC, se efetivamente foram empregadas na
renovação da frota como havia sido anunciado. O Prefeito Tarso Genro não se
dirigiu diretamente a esta questão, respondendo apenas o aspecto que dizia
respeito à CARRIS.
Outra questão é, em
termos práticos, se a situação do transporte em Porto Alegre já era ruim, já
era difícil, ficou pior. Nesta condição de instabilidade e indefinição, os
empresários deixaram de investir completamente. Pergunto: qual é a
responsabilidade da Administração Popular quanto ao futuro do transporte, já
que planos para renovação de frota são demorados, custam a maturar e custam
reverter em benefício do usuário.
Por último, Sr.
Presidente, sabemos que existem várias ações ajuizadas contra a Prefeitura
Municipal. Ações cujos valores são elevadíssimos. É evidente que a Justiça
ainda terá que decidir, mas sempre há o risco de a Prefeitura ser derrotada nestas
ações judiciais. Isto é questão de definições. Então, havendo este risco,
pergunto novamente: qual a responsabilidade da Administração Popular em deixar
uma dívida potencial para as futuras administrações e para a própria população
da Cidade que, de uma forma ou de outra, poderá ser convocada a pagar estas
dívidas que não serão pequenas. Como a Administração Popular pode com
tranqüilidade progredir neste caminho que ela traçou de intervenções da geração
destas questões judiciais todas e se estas decisões podem se voltar contra as
futuras administrações e o povo que terá que pagar, seja na forma de serviços
essenciais de supertarifação ou de outra maneira que irá retirar os seus
recursos a bem de pagar estas indenizações a serem decididas pela Justiça.
O SR. ARTUR ZANELLA: O Dr. Tarso Genro colocou a questão sobre o valor das
tarifas e ao que me concerne a divergência não é esta. Durante o tempo em que
fui Secretário dos Transportes ouvi da bancada da esquerda, especialmente do
Ver. Hohlfeldt, que os cálculos eram fraudulentos e feitos pelos empresários.
Até trouxe uma foto durante a primeira votação da tarifa na Câmara, quando
baixamos a tarifa em 20 a 30% e tivemos que sair protegidos pela Brigada
Militar. Por coincidência, quem estava na frente do prédio, num fuca branco,
com alto-falante, era o atual Secretário dos Transportes, Dr. Diógenes, e que
dizia que aquilo era uma fraude. Então, quero dizer que a minha inconformidade,
hoje, é com aquele comportamento que dizia que podia baixar a tarifa e, também,
com aquela afirmação de que antes os empresários calculavam a tarifa. No meu
tempo de Secretário ela era calculada pelo Dr. Carracho, que foi Diretor da
CARRIS na Administração do PT, Dr. Onira e Engº Spina, do PMDB. Então, eu
queria deixar bem claro que, nesse período, empresário nenhum calculou tarifa
ou apresentou dados de tarifas. Também me informaram que V. Exª havia feito um
comentário sobre o fato de um Vereador ter entrado na Justiça contra a
Administração. Como eu entrei, efetivamente, na Justiça, em uma questão de
mérito do IPTU, e o Juiz, individualmente, me deu ganho de causa, não deu para
toda a população, mas exatamente eu entrei na Justiça para terminar com o
debate estéril que se estava mantendo, pela imprensa, como Sr. Secretário da
Fazenda, meu ex-colega.
O SR. TARSO GENRO: Em relação ao erro da PROCEMPA, nós também atribuímos a
maior gravidade ao mesmo, tanto é que ele foi prontamente corrigido, talvez V.
Exª não tenha recebido informação a respeito, mas este erro comprometeu
parcialmente a seriedade daquela empresa de assessoria ao Poder Público
Municipal. Nós pensamos que os erros, às vezes, são inevitáveis, mas achamos
que a gravidade deste erro exigiu, de nossa parte, uma investigação imediata e
a mudança imediata do volume de passageiros, esse que foi informado de maneira
equivocada. Se a Casa pode fazer uma investigação na receita da SOPAL, não há a
menor dúvida. V. Exª terá o acesso que quiser à receita da SOPAL, para
verificar o procedimento e a lisura da administração pública naquela empresa. A
destinação de recursos do vale-transporte, em relação à VTC, foram comprados
dois carros, mas o custo financeiro herdado da sobrevivência das demais
empresas não permitiu, até agora, que se iniciasse a renovação da frota. Em
relação ao fato de que os empresários deixaram de investir no transporte
coletivo depois da nossa administração, quero dizer que ocorre o contrário: os
empresários passaram a investir no transporte coletivo. Durante o ano passado
empresários colocaram carros nas ruas, evidentemente que ainda não em número
suficiente, mas vários foram colocados, inclusive foram apresentados à
população na frente da Prefeitura, em mais de uma oportunidade, já, portanto,
uma retomada de investimento do empresariado, na área do transporte, que tem
tido a solidariedade e o apoio do Poder Público Municipal. Com relações às
ações judiciais ajuizadas contra a Prefeitura, até agora ganhamos todas, e
vamos continuar discutindo juridicamente, tecnicamente, as ações que estão
sendo propostas. Este é um princípio que supera a personalidade individual do
dirigente que é uma conquista da revolução Francesa, entre o dirigente e o
Estado, que determina a continuidade do Poder Público, e a continuidade do
Poder Público como a estrutura de relacionamento legítimo e legal com o
conjunto da população, e isso é natural que ocorra, se houver alguma ação que
administrações posteriores tenham que pagar e irão pagar, e vou dar um exemplo
típico, Ver. Castan: agora, em abril, vamos pagar a primeira prestação da Av. Beira
Rio, realizada no governo anterior, e encaramos isso com a maior naturalidade.
É um problema relacionado com a continuidade da responsabilidade do Poder
Público, perante os seus credores e a sua população.
O SR. ISAAC AINHORN: Gostaria de deixar claro que esse desafio que V. Exª propõe
é altamente positivo e salutar, mas com as ressalvas de que aquele ato, o exame
daquela matéria deve vir, conjuntamente, com uma auditoria externa examinando
todos os atos das intervenções juntos às empresas do transporte coletivo da
Cidade de Porto Alegre, dos gastos e dos recursos que a Prefeitura teve que
colocar dentro das empresas do transporte coletivo. Mas aceito o desafio,
nesses termos, de que a auditoria seja mais ampla, completa e profunda. Em
segundo lugar, com relação à primeira referência que fiz ao carnaval, me
baseei, exatamente, numa notícia da “Zero Hora” em que informa que a EPATUR
estipulou em 50 mil cruzados o valor da fantasia do Rei Momo e que,
independente de qualquer coisa já antecipou 35 mil cruzados e que, de outro
lado, o Prefeito Olívio Dutra, antes da sua saída tinha liberado 3 milhões de
cruzados para o carnaval. Quer dizer, sei do esforço que está sendo feito para
conseguir estes recursos junto à iniciativa privada, aliás, é uma medida salutar
que nós já preconizávamos esta participação desde o inicio do ano.
Então, estas
considerações eu gostaria de deixar registradas, e por último a questão da
unificação do vale-transporte. Acho fundamental, evidentemente, falei no meu
nome pessoal, tenho esta proposta de unificação porque quem está sendo
prejudicado com a desunificação é a comunidade da nossa Cidade e estes recursos
são também da população quando ela antecipa o valor da passagem. Tenho uma
posição de que isto deva ser estudado profundamente e eu tenho uma outra
posição que deva se buscar o consórcio entre a Prefeitura e a Associação dos
Transportadores de Passageiros para administrar estes valores conjuntamente.
Eles são empresários e têm, naturalmente, uma economia capitalista de mercado e
eles têm que defender os interesses de seus investimentos e nós, como
representantes do povo, temos que defender os interesses públicos. Acho que a
Prefeitura, como representante dos interesses públicos, deverá estar junto
neste consócio de aplicação desses recursos no gerenciamento do vale transporte
na Cidade de Porto Alegre.
O SR. TARSO GENRO: Não foi formulada nenhuma pergunta, apenas reitero
agradecimentos que já havia manifestado, reitero a afirmativa que estou muito
orgulhoso de participar deste debate e, principalmente, de ter suscitado
enérgicas intervenções num diálogo que engrandece tanto o Executivo como o
Legislativo. Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a presença do Sr. Prefeito e cumprimentamos pela
sua participação digna e correta, como nós já conhecemos há muito tempo.
Suspenderemos os
trabalhos para as despedidas.
(Suspendem-se os
trabalhos às 12 horas.)
Com a palavra o Ver. João Dib, em Comunicação de Líder.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, continuo o mesmo Vereador
simples, o mesmo legislador que diz que a melhor das leis é ainda a lei do bom
senso. A Administração Popular distribuiu para os Srs. Vereadores um documento
que merece a nossa análise. Diz que a folha de pagamento do mês de janeiro
deste ano monta 174 milhões e meio de cruzados. É claro que não é verdade,
porque além da lei do bom senso, existe a lei dos números, e se sobre 70
milhões pagos em dezembro para o funcionalismo municipal acrescentarmos 117%,
dá 148 milhões de cruzados, diz a Administração Popular que deve ter uma
arrecadação de 180 milhões de cruzados, se tiverem é por ineficiência. Deverá
ser muito mais, diz a Administração Popular que saqueando os salários dos
municipários, e não uso outro verbo, uso o verbo saquear, na forma preconizada
ela gastará 159.600,00. Então, aprenderam a somar 2 e 2 que dá quatro e façam o
pagamento integral dos direitos do funcionalismo, não intranqüilizando a
população municipária como estava aqui há pouco tempo. Vamos pagar o que é
devido, não faça o Prefeito ameaças à Câmara Municipal de não mandarem os seus
recursos, porque o Decreto-Lei nº 210, no seu art. 4º diz que são infrações
político-administrativas dos Prefeitos Municipais, sujeitas a julgamento pela
Câmara de Vereadores e sancionadas com a cassação de mandato. Impedir o
regulamento regular da Câmara, inciso 1º; e inciso 7º, praticar contra a
expressa disposição de lei ato de sua competência, ou omitir-se na sua prática
significa não cumprir a Lei Complementar que determina a bimestralidade, e até
nem vou discutir o veto feito ao Projeto do Ver. Leão de Medeiros, que foi
aprovado por esta Casa até com negociações para aprovação do pacotasso
tributário que não seria vetado e foi. Mas, Sr. Presidente e Srs. Vereadores,
se a lei determina a cassação do mandato do Prefeito, por não cumprimento de
dispositivos constitucionais, e é a própria Constituição que diz no seu art.
168 que até o dia 20 de cada mês os recursos do Legislativo devem ser a eles
entregue. Mas como pode uma Administração Municipal, que através dos seus
segmentos partidários, através das CUTs e outras coisas mais que existem por
esse País, quer que sejam pagos salários semanais, se negar a pagar a
bimestralidade que foi conquistada com muito esforço, com muito trabalho, e que
negou a mensalidade. Mas, é uma administração que parece desconhecer a
legislação que existe neste País e que até a favorece, legislação do dia 11
deste mês que, facilitando a arrecadação municipal, na Lei Complementar nº 63,
Lei Federal, sancionada por S. Exª o Presidente da República, diz que o IPVA
será creditado para o Município imediatamente, no momento do recolhimento, 50%
que lhe competem. Portanto, a Lei favorece o Município que se omite de suas responsabilidades.
E é o art. 5º desta mesma Resolução que diz que até o segundo dia útil de cada
semana o ICMs deverá ser pago ao Município. Portanto, o Município passa a
receber o ICMs semanalmente. Acho que esta Administração, em vez de cortar os
recursos devidos ao funcionalismo, deveria gastar o seu tempo não na
intervenção do transporte coletivo urbano, mas na busca de soluções que
aprimorem a arrecadação para que não tenhamos intranqüilidade entre o
funcionalismo e que esta Câmara não seja obrigada a acionar o Decreto-Lei nº
210, pedindo a cassação de S. Exª o Sr. Prefeito. Muito obrigado.
(Não revistos pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE
(Adroaldo Corrêa): A palavra, com o Ver. Vieira da Cunha.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, não poderia deixar de me
manifestar já que, conforme é do conhecimento público, há dois dias que todos
os veículos da RBS vêm bombardeando este Vereador com a acusação de que eu
teria patrocinado, nesta Casa, um trenzinho da alegria ao propor uma Emenda que
pretende garantir a estabilidade no emprego para os servidores celetistas da
Prefeitura, da administração direta, indireta e fundações. Eu não me
surpreendo, Ver. Dib, com as incoerências da autodenominação da Administração
Popular, porque não é só na política salarial do funcionalismo que elas
afloram. A respeito deste meu Projeto, hoje o Vice-Prefeito Tarso Genro, no
exercício da Prefeitura, disse confiar que a Câmara derrotará o que ele também
entende seja um “trenzinho”. O Vice-Prefeito Tarso Genro que se notabilizou
como o advogado defensor dos interesses dos trabalhadores. Eu não precisaria
lembrar a S. Exª, o Sr. Prefeito em exercício, que uma das maiores bandeiras
dos trabalhadores deste País e do mundo inteiro é a busca da garantia da
estabilidade no emprego. Vale dizer: a proteção contra a despedida arbitrária,
imotivada ou sem justa causa. Inclusive, nos vários congressos brasileiros de
Direito do Trabalho as resoluções são todas no sentido de que se dê garantia ao
trabalhador contra a demissão imotivada ou sem justa causa. Faz parte essa
bandeira de luta de todos os programas dos partidos progressistas, incluindo,
aí, obviamente, o Partido dos Trabalhadores. Felizmente eu tenho, aqui, por
dever de justiça, de fazer exceção ao Ver. José Alvarenga, do PT, que votou
favoravelmente a esta proposta no âmbito da Comissão Temática da Organização
dos Poderes do Município. Não há como deixar de ser incoerente ao pré-julgar
esta Emenda como o “trenzinho da alegria” e o argumento usado é um argumento
despropositado. Alegam os que taxam assim essa medida que nós, Vereadores da
Câmara de Porto Alegre, estamos querendo efetivar trabalhadores sem o devido
concursos público. Mas não se trata disso. Uma coisa é efetivação, outra coisa
é estabilidade. Bem diferente. Efetivar seria pretender transformar os
celetistas em funcionários públicos sem concurso. Não é isto que se quer. O que
se quer é dar aqueles que tenha dois anos ou mais de serviços para a Prefeitura
a garantia contra a despedida arbitrária. A garantia de que só serão demitidos,
no caso de cometerem uma falta grave. Aí, me contra-argumentam: mas ninguém vai
para a rua! Não existe caso de estável demitido. Existe Sim! Quando eu dirigi o
DMLU, vários operários foram demitidos por justa causa. São nada menos do que doze,
uma dúzia, as hipóteses previstas na CLT para demissão por justa causa que vai
desde a insubordinação, o mau procedimento, a desídia, o abandono de emprego.
Estão todos lá na CLT para serem utilizados pelos patrões.
Então, Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, é muito difícil sustentar essa discussão com quem esquece dos
seus princípios quando é governo. Como é o caso do PT. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENRE: Para Comunicação de Liderança, Ver. João Motta, O Partido
dos Trabalhadores.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, parece que, ultimamente,
neste País, se tenta criar uma nova cultura política, que é responsabilizar o
PT por tudo o que existe de errado em termos de Administração Pública, por tudo
o que existe de errado em termos de acontecimento político, por tudo o que
existe de errado em termos de crise econômica, etc. Esta manipulação não é
possível. Não há a menor possibilidade de admitirmos e concordamos em sermos
até mesmo simpáticos a ela. É uma manipulação recente, há 15 minutos atrás
tivemos um debate, ficou visível, mais uma vez, que o método fotográfico
utilizado pelo Ver. Isaac nesta discussão sobre intervenção nos transportes
omite os fatos antecedentes e conseqüentes do episódio da intervenção. É um
absurdo nós concordarmos com esta metodologia que agora o Ver. Vieira da Cunha
reproduz integralmente. Parece que a história é um momento fotográfico só, como
se esse momento por si só explicasse todos os fatos e os problemas estruturais
que existem na sociedade brasileira em termos gerais como o das características
gerais do estado do Brasil, que é paternalista, investidor e não comprometido
com as chamadas dinâmica sociais. O PT, mais uma vez, é responsável por isto.
Vejam o fetiche à manipulação e me surpreende que este raciocínio é feito por
Vereadores do PDT que, recentemente, estiveram conosco nesta verdadeira
empreitada política de afirmação do processo de democratização do País, quando
tentamos derrotar a mais radical produção em termos de manipulação, neste
Brasil, que foi a candidatura produzida pela rede Globo de Televisão, Collor de
Melo, que se omitiu durante todo o momento de sua verdadeira raiz e ela, o PDT
inclusive nos ajudava a denunciar que era a origem das nomeações na época da
Ditadura para a Prefeitura de seu Estado, bem como ser Governador do mesmo
Estado, pelo Partido que sustentou a chamada transição conservadora... Podemos
fazer, Ver. Vieira da Cunha, uma discussão sobre o problema polêmico da
estabilidade. Nós discordamos e concordamos com o pronunciamento divulgado pela
imprensa do Prefeito em exercício, Tarso Genro, que de nossa parte nós não
concordamos. Faremos todo o esforço no sentido de sensibilizar e quero,
publicamente, manifestar o meu reconhecimento pela declaração feita pelo Ver.
Vicente Dutra de que ele também acha que a sua Bancada não irá concordar com
esse tipo de instituto, legitimando algo injusto e imoral, perante o
funcionário público. Com relação à questão da estabilidade, o PT continua a
favor dela como princípio geral em todo o País a ser aplicado em todo o lugar a
qualquer momento. Ver. Vieira da Cunha,
sem concurso não dá. Pergunto: V. Exª está abrindo mão do concurso? V. Exª está
abrindo mão daquilo que está estipulado na Constituição, hoje? Se V. Exª está
fazendo isto, só tem que fazer a proposta e votar na proposta que V. Exª
acatou, inclusive, sendo responsável por sua aprovação, infelizmente, não só
para nós que estamos sistematizando o anteprojeto da Lei Orgânica, como para
esta instituição, a Câmara de Porto Alegre, que perde e se desgasta com isto.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Sr. Secretário que faça a verificação de
“quorum”.
O SR. SECRETÁRIO: (Procede à chamada dos Srs. Vereadores.) Não há “quorum”,
Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Registro a presença dos Srs.Vereadores: Adroaldo Corrêa,
Ervino Besson, Giovani Gregol, João Dib, José Alvarenga, Omar Ferri, Vieira da
Cunha e Vicente Dutra. Estão encerados os trabalhos.
(Levanta-se a Reunião às 12h20min.)
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